quinta-feira, junho 01, 2006

Sinal dos Tempos

Para quem, como eu, começou a tentar construir uma discoteca decente nos anos 80, substituindo os velhos vinis pela novíssima tecnologia dos CDs (assim é que se vê como o tempo passa) e vivia em Lisboa, a Discoteca Roma era uma referência incontornável. Com o boom de vendas no mercado da música clássica causado pelo aparecimento dos novos discos que não tinham que se mudar a meio, iam directamente para a faixa pretendida, tinham toda a qualidade do som digital e eram practicamente indestrutíveis, esta e muitas outras lojas prosperaram, o que levou mesmo à abertura das duas Roma Megastores, no Campo Pequeno e na Rua de Santa Catarina, no Porto. Passados os anos 90, toda a gente refez a sua discoteca, todos nos apercebemos que há um número limite para a quantidade de versões que conseguimos ter da nona de Beethoven e, não menos importante, surgiu a FNAC.
Ainda me lembro de gastar os meus primeiros cachets na Roma, há quase 20 anos. Ainda ouço com freqência o primeiro disco que comprei, a Flauta Mágica, dirigida por Bernard Haitink, hoje em dia com o autógrafo da Edita Gruberova que guardo religiosamente. Pouco depois comprei a Missa Brevis de Palestrina cantada pelos Tallis Scholars e dirigida pelo Peter Phillips. Recordo-me ainda da minha professora de piano (sim, foi mesmo há muito tempo) a perguntar porque não gastei o dinheiro num disco de música de piano. Se o tivesse gasto talvez não conhecesse o Peter pessoalmente e não tivesse tido o prazer de trabalhar ao seu lado.
Passados estes anos e estas contingências, aqui fica uma imagem do que é desde Maio a Discoteca Roma. Penaliza-me ter vivido alguns meses quase ao lado e não ter criado tempo para entrar. Lamento ter visto os donos a trancar a porta pela última vez e não ter tido noção do que estava a presenciar. Tenho sobretudo pena de não ter tido ocasião de responder ao último recado que a Ana Simões deixou no meu atendedor, anunciando a chegada de uma encomenda que nunca levantarei.
Um mês antes do fecho da Roma soube que a Ana recomendava o disco do Olisipo, do qual teve conhecimento desde a gravação, aos seus clientes como uma boa escolha. Da mesma forma várias vezes me aconselhou quanto à qualidade de determinadas gravações. Não me parece que os caixas do BANIF façam o mesmo...

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